segunda-feira, 25 de abril de 2011

Honestamente...

Não gosto muito deste dia, mas prefiro guardar aquilo que penso só para mim, uma vez que ainda não era nascida em 74 e fala melhor quem tem conhecimento de causa. O que eu sei é que acabei de ouvir na tv um discurso, em que há excepção de um deles que conheço bem e sei inclusivê que chegou a vender bens próprios para conseguir representar o povo em certas cerimónias, todos nos ajudaram a chegar onde estamos neste momento. Existe uma mentalidade instalada no nosso povo em que temos que ter para ser alguém. Mesmo que esse raciocinio estivesse correcto, para se ter é preciso fazer o que? Trabalhar. Mas em plena crise o governo deu a tarde de 5f aos funcionários públicos e eles não se importaram. Afinal precisamos de ter para que? Para mostrar que temos. E assim se vive neste País.
Vivemos num País em que a meio do mês já se anda a contar tostões, porque é preciso ir tomar o pequeno almoço fora todos os dias. É peciso o maço de tabaco e a bica diária. Sempre que se pode comer fora é o ideal, porque fazer comida em casa é uma chatice, e fazer em grandes quantidades e separar em caixinhas para aquecer no trabalho durante a semana é impenssavel, não vá alguém pensar que somos pobres! Trabalho numa empresa onde a maioria dos colegas que ganha o msm que eu me pergunta quando vou trocar de carro, porque o meu tem 7 anos e 150 mil km e apesar de ter sido comprado novo e nunca ter tido problemas sérios, alguém instituiu que é melhor trocar de carro de 4 em 4 anos. Mas melhor para quem?
A primeira coisa que fazem assim que têm dinheiro (ou conseguem um emprestimo) é irem de férias para o Brasil ou para a Republica Dominicana, para dizer que já viajaram. Mas se alguém lhes perguntar se conhecem um bom sitio para pernoitar em Figueira de Castelo Rodrigo, olham para nós a pensar - Mas porque é que estes tipos querem ir para Espanha, se podem ir para as caraibas?
As pessoas têm vergonha em mostrar que não vivem assim tão bem, pelo julgamento que a sociedade faz. Vivem com uma escala da valores toda trocada, vão para a praia em dia de eleições e são os que mais criticam. E criticam porque não têm o suficiente para mostrar.
Sim, alturas houve em que não passei fome, mas me alimentei muito mal, porque não havia dinheiro para mais.
Não fiz a minha escolaridade sempre em colégios privados como os meus pais queriam porque nem sempre eles tiveram dinheiro para isso.
Durante alguns anos houve infltrações no telhado e chovia em certas partes da casa, mas tivemos que viver assim até haver dinheiro para arranjar o telhado, mas mesmo nessas alturas, não deixamos nenhum dos nossos animais ao relento. Nunca pedi dinheiro emprestado, sempre nos organizamos no nosso agregado familiar, mas sempre tive para emprestar a quem teve a humildade de me pedir. E todos esses devolveram esse empréstimo. Aquilo que mais amo fazer é viajar e a primeira vez que sai do Pais tinha 14 anos e fui a Badajoz porque a mãe conseguiu juntar esse dinheiro, não comprando coisas que se calhar lhe faziam falta. Isso fez de mim menos do que sou hoje? Não... fez-me ser muito mais, fez com que desse valor á saúde á familia e ao amor. Fez com que 10 anos mais tarde possa ser eu a levar a mãe numa viagem sempre que é o seu aniversário, porque ela sempre abdicou e sempre deu o exemplo do que é necessário e superficial.
Faço escolhas todos os dias como a maioria dos Portugueses, não posso sempre ter tudo o que quero, mas garanto que sou feliz com tudo aquilo que tenho! Se o 25 de Abril nos deu a Liberdade que nos faltava, então talvez apenas me reste dizer que cada um tem o Pais que merece, porque eu com a mesma liberdade que todos os outros ainda assim consigo ser feliz. E sim tenho ataques de futilidade e até deixo exemplos. Adoro malas, todos os que me conhecem sabem disso. Há 2 anos que ando de olho numa destas. Se um dia vou comprar? Vou. Quando achar que faz sentido, nem que seja daqui a 10 anos. Vou juntando pontos no cartão do combustivel, na mesma bomba onde os pais compram o tabaco. É opção deles, não os quero julgar ou mudar, já fumavam quando eu nasci. Simplesmente direcionei uma realidade para garantir um bem que não é essencial. Eu coloco lá combustivel, os pais compram lá o tabaco, a madrinha as revistas e os jornais. Um dia quando tiver metade do valor da mala em pontos no cartão, troco e ponho o resto. Dou de prenda de Natal a mim mesma. Quanto tempo vai levar? Não faço ideia, mas porque é que eu tenho que pertencer a uma sociedade de consumo imediato? Posso garantir que a noite quando me vou deitar a última coisa em que penso são nestas malas. E sou tão feliz sem elas... como no dia em que tiver uma delas.

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