sábado, 3 de novembro de 2012

The unbreakable

Ontém á noite a mãe teve um edema pulmonar. A juntar ao pouco espaço respiratório que já tinha, agora tem também liquido nor pulmões. Esta numa unidade de cuidados intermédios com vigilância 24h por dia e já lhe começaram a aplicar morfina. Eu não sei bem como explicar á familia que a qualquer momento pode voltar a ter uma crise respiratória e não conseguir recuperar dela. Pode viver mais alguns dias, mais algumas semanas, talvez um mês se não houver outro edema tão próximo...
Mas depois chego lá e vejo o meu pai com cara de perú em véspera de natal, não sabe viver sem a minha mãe, nunca soube e agora é tarde para seguir um rumo mais autónomo, terei que ser eu a ajudar. A minha madrinha está sempre á beira de uma crise de nervos em qualquer situação de rotina, numa situação limite como esta já ultrapassou todos os limites do razoável. As amigas a minha mãe tentam disfarçar, mas saem de lá sempre a chorar. Uma parte da familia evita fazer muitas visitas porque não consegue lidar com a perda dela. Telefonam todos os dias, mas encarar a realidade de a vêr a definhar é algo que não sabem fazer. A minha prima que tem sido das melhores ajudas que tenho tido, hoje chegou lá e quando se deparou com a situação teve que ir tomar um xanax e comer porque estava maldisposta. Isto vindo de uma médica com 40 anos de serviço também é bizarro.
E todos estão consumidos por dentro, todos revelam isso no seu exterior menos eu... tirando alguns traços de cansaço.
Alguém hoje me perguntava como é que eu estava e dizia que ia correr tudo bem, porque eu sou uma menina forte.
As coisas não são bem assim e eu não sou inquebravel.
Neste momento reajo desta forma porque todos os outros já estão rachados ao meio. São mais velhos do que eu, já passaram por mais perdas, inclusivê a das suas mães e a sua capacidade de resistir já não é a mesma. Depois porque não quero pessoas depressivas e chorosas junto de um doente que sabe que vai morrer. Não entendo a morte dessa forma, a minha mãe também nunca encarou a morte como algo problematico. Somos pessoas com um nível de espiritualidade elevado e se sempre acreditamos que esta vida é uma passagem e todos vimos cumprir a nossa missão e depois partimos, temos que encarar com naturalidade essa partida. Saudades vamos sentir sempre, falta daquela pessoa também... mas nos seus bons momentos de vitalidade fisica, porque para os maus momentos também estivemos cá.
É egoismo, involuntário talvez, querer prolongar a vida de alguém que amamos, porque não queremos lidar com a sua perda, principalmente quando essa pessoa se limita a sobreviver num estado de dor.

O que nos diferencia uns dos outros, é aquilo que pensamos. Nós somos aquilo em que acreditamos, e eu não sou inquebravel, simplesmente ainda não me estilhacei porque acho que não é o momento. Ainda tenho força e lucidez para escolher a altura em que posso ceder e partir em pedaços, e essa altura não será enquanto a minha mãe estiver viva. Não é essa a imagem com que quero que fique de mim, de alguém frágil que não consegue lidar com as dificuldades que surgem. Não foi isso que ela me ensinou, não é nisso em que acreditamos.
Quebro, quando tiver que quebrar... mas não é agora.


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